terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Dia 32 –Puyuhuapi a El Bolson










São como onze horas da noite e eu finalmente estou de banho tomado e esperando a minha janta. Cheguei a El Bolson e foi bem difícil conseguir um local para passar a noite. Estava quase apelando para a barraca.
Diria que o dia, em sua plenitude, foi indescritível. Durante o mesmo eu já estava a pensar: como vou escrever sobre isso tudo. Impossível escolher as palavras. Me perdoem meus leitores: o que vão ler agora é narrativa pobre do que foi o dia. Minha capacidade discursiva não alcança o que foi o dia de hoje.
Segue, pois, a tentativa.
Acordei em Puyuhuapi e dividi a mesa do café da manhã com dois israelenses e dois chilenos e duas francesas, todos na faixa dos vinte e bem poucos anos. Fiquei abismado com a cultura e o conhecimento de todos. Diria que com uma grande bagagem de conhecimento; muito diferente do estereótipo do jovem mochileiro. Tenho de rever meus conceitos com relação a isso.
Consegui sair bem cedo para os padrões da viagem 8:30 e o dia começou nublado mas sem cara de chuva. Estrada boa, mas mesmo com pouca velocidade sentia frio. Em La Junta resolvi colocar o forro também no casaco, pois ainda estava nublado e com possibilidade de chuva. Aliás para quem vier por essas bandas. Vale a pena esticar ou encurtar a pernada até Puyuhuapi, o rípio está muito bom e o local é muito mais agradável, a beira de um braço de mar que eles chamam de fiordo.

Um detalhe sobre a chuva e o rípio. No rípio pedregoso com muito cascalho, seixos ou o que seja a chuva atrapalha, é o mesmo que no paralelepípedo molhado. Há que se ter ainda mais cuidado. No rípio de pó de pedra ou pedras pequenas e chão batido por baixo ou no chão batido puro um pouco de chuva faz maravilhas. Todo aquele pó e pedriscos são compactado e o que fazia sua moto bailar para lá e para cá repentinamente se torna seu aliado.

A poeira também desaparece, o que na verdade para mim é pior pois a poeira é um indicativo dos carros que vem em sentido contrário. Postei aqui o problema que tive na descida para O’Higgins. Para detectar os carros em curvas também adotei outra técnica aconselhada por um dos ingleses de Coyaipe. Dar uma reduzida (zerada no motor) assim se pode ouvir o ruído de outros carros haja vista ser a estrada muito silenciosa. Só digo uma coisa sobre essa última dica: funciona

O visual da estrada é deslumbrante e durante o percurso o tempo foi mudando e fui obrigado a conviver com o céu da cor que estão vendo nas fotos.Tudo ainda mais bonito e essas fotos assim! Por volta das 11 horas estava tudo quente de novo e a fome estava aparecendo. Juntando a fome com o calor encontrei uma descida após uma ponte.
Anotem essa posição S43 34.589 W72 20.648, não sei o nome do rio ainda, mas era lindo. Lavei e comi as frutas (melhor almoço para quem vai viajar bastante depois do almoço) que comprei em La Junta e quando tirei a o casaco e a calça para remover os forros percebi que estava realmente quente o sol. O termômetro da moto indicava antes da parada 25ºC. Não é quente para nossos parâmetros mas naquele sol estava convidadivo. Lembrei que havia no bauleto das minhas roupas uma única peça que não havia sido usada: o calção de banho. E por que não, na dúvida entre a água gelada e seguir viagem fiquei com a água gelada. Foi o melhor banho gelado de minha vida, me levou a minha infância/adolescência quando ia para os sítios dos meus tios no interior de São Paulo, mas era a Carretera Austral. Não foi muito demorado porque estava frio até mesmo para cariocas de Bagé.Então antes que meu pé enrugasse demais fui dar uma lagarteada no sol para secar e seguir viagem. Cochilei. Depois vi que por 40 minutos.
Foi impagável. Inesquecível. Para mim bastou: fechou-se o ciclo.
O conjunto estrada, moto ficou ainda melhor. O dia já vinha ótimo e ficou perfeito. Estava me sentindo bem pilotando, as pequenas escorregadas já não assustavam mais, simplesmente eram corrigidas. A tensão que tomava conta durante os piores trechos de rípio diminuiu. Não me tornei mais hábil com a moto, ainda sou um motociclista com muito a aprender, mas acho que foi dado o primeiro passo para começar a aprender, a retomar o espírito motociclístico que existe em todos nós.
Aquela hora e meia parado a beira da Carretera foi mágica, divina. O apaogeu da viagem, só faltou mesmo a Suzete para estar ao meu lado ao vivo porque em pensamento ela estava ali.
O tramo até Futalefu, depois de Santa Lucia consegue ser ainda mais bonito.Montanhas enormes com seus cumes cobertos por neve com a base coberta por floresta exuberante; lagos e o Rio Futalefu muito bonito.
Cheguei a cidade de Futalefu que é muito simpática e até olhei o hotel indicado pelos amigos Felipe e Márcia em seu blog (www.rodamundomg.blogspot.com) mas na verdade era cedo, eu estava me sentindo muito bem e o ciclo, por hora, como disse, estava fechado.
Segui adiante e meu último rípio foi feito em alta velocidade e saudade e segurança (sempre).
A aduana foi rápida nos dois lados. Vim até El Bolson porque afinal, como os amigos já leram aqui, tenho prazo para não ser considerado desertor lá em casa.
Estou agora, com minha Quilmes Stout, lembrando com lágrimas felizes de todos esses dias, de como foram especiais.
Amanhã tentarei um teste de mil milhas do IBA: serão mil milhas em 24 horas. I’m a tough Guy (I hope so) e espero que tudo corra bem. Muito obrigado a todos vocês.
Total do dia 444 km.

4 comentários:

  1. rodamundomg.blogspot.com27 de janeiro de 2010 às 08:34

    Parabéns pela conquista Charlão!!! Maravilhosa viagem, retorna com calma que agora é caminho conhecido. Abracao, Felipe e Marcia

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  2. Charles...

    Valeu por todas as dicas... já anotei as coordenadas...show de viagem e relatos...
    Bom retorno...

    Abraço

    Marcelo e Lari

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  3. Tenho acompanhado o Blog todos os dias e digo, sem sombra de dúvida, que o mesmo merece ser transformado em um livro de roteiro de viagem para quem quiser repetir esta aventura. Um abraço, Zé Serpa.

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  4. Amigo Charles, Parabéns pelo sucesso da aventura! Vc conseguiu atingir os seus objetivos iniciais, que muitos seguer tentam partir... Agora é fechar com chave de ouro e compler o Iron Butt 1000 milhas. Será moleza mesmo depois de vários dias. Agora seu corpo já está incorporado as sua moto. Continue com a proteção do Supremo Criador. - Fraterno motoabraço - Renato Lopes

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